Thomas Merton e a “espiritualidade” da liberta??o


Abaixo, uma resenha recebida de um grande amigo. Comentem!

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H? algumas semanas por um desses belos acasos da vida, caiu literalmente em minhas m?os o livro “M?stica e compaix?o, Teologia do segmento de Jesus em Thomas Merton”, de Get?lio Ant?nio Bertelli, edi??es Paulinas (tinha de ser) . Pois bem caros amigos gostaria de j? ter escrito antes sobre o mesmo, mas os trabalhos dos ?ltimos dias me impediram, e como diz o velho ditado primeiro o trabalho depois a divers?o.
Vamos ao livro. Embora no titulo apare?am as palavras m?stica e segmento de Jesus, a tese principal do autor ? provar por A+B que o monge Trapista da Abadia americana de Gethsemani Thomas Merton (nascido em Prades, Fran?a a 31 de Janeiro de 1915 e falecido em Banguecoque, Tail?ndia a 10 de Dezembro de 1968) ? o grande precursor do que o autor chama de espiritualidade da liberta??o, entenda-se ?teologia? da liberta??o. Bom para n?o ser injusto gostaria de parabenizar o autor pelo belo eufemismo, nunca imaginaria que existisse alguma espiritualidade na dita ?teologia?.

Mas o que me chamou mais a aten??o no referido livro, al?m da prolixidade (o livro poderia ser reduzido ? metade e n?o haveria o m?nimo problema de continuidade) foi a j? referida tese. O autor parte das seguintes premissas:

a) Thomas Merton se posicionou fortemente e incisivamente contra a guerra fria, a corrida armamentista, o perigo eminente de um holocausto nuclear, e a guerra do Vietn?;

b) Thomas Merton se correspondeu com l?deres pacifistas;

c) T. Merton tinha um grande apre?o pela America latina; e finalmente

d) Merton foi lido e influenciou eminentes ?pensadores? latino-americanos como frei Beto; portanto o pobre monge ? o pai da crian?a que dizer da ?teologia? da liberta??o.

Bom para corroborar o que escrevi eis a apresenta??o do livro retirado do site da editora:

O objetivo desta obra ? mostrar Thomas Merton, um dos maiores m?sticos do s?culo XX, como um dos precursores da espiritualidade da paz na Am?rica do Norte e da teologia da liberta??o latino-americana… Pois ainda hoje, em plena era espacial, ecol?gica e nuclear, o centro do universo continua a ser o cora??o humano, feito para o Transcendente. A teologia do seguimento de Jesus em Merton tem profundas bases b?blicas, interpretadas numa dimens?o libertadora, ecum?nica e inter-religiosa. Por isso, ela ? capaz de embasar a espiritualidade da liberta??o latino-americana: uma espiritualidade de resist?ncia prof?tica diante das for?as desumanizadoras e opressoras do mundo globalizado excludente; uma espiritualidade da solidariedade, que se coloca ao lado das v?timas em seu sofrimento e se engaja na utopia de minimizar a fome e a mis?ria no mundo, at? tornar-se utopia…

N?o ? preciso entender muito de l?gica para perceber que tais premissas n?o se sustentam por si s?. A primeira ? na minha opini?o a mais interessante de todas. Para o autor o posicionamento de Merton frente ? guerra e viol?ncia parece ser algo in?dito na hist?ria do cristianismo, ser? que por acaso a passagem evang?lica bem aventurados os que promovem a paz n?o lhe diz algo? Ser? que diversos outros crist?os n?o se posicionaram contra a insanidade das guerras em todos os tempos? Seriam todos ent?o adeptos da dita ala libert?ria, ent?o que tal incluirmos tamb?m o Papa Bento XV, pois afinal de conta seu posicionamento frente aos horrores da primeira grande guerra n?o ? digno de nota?

Quando li a segunda premissa tive vontade de deletar todos os meus emails (h? muito tempo que n?o escrevo cartas) afinal posso ser acusado de algo somente por ter me correspondido com algu?m. Mas vamos ao caso, Merton realmente se correspondeu com centenas de pessoas dentro e fora dos Estados Unidos, mesmo antes de seus manifestos contra a guerra ele j? era um autor de renome, seus livros sobre espiritualidade j? gozavam de ampla divulga??o. Seu epistol?rio versava sobre os mais diversos temas: dire??o espiritual, filosofia, teologia, literatura e claro as suas preocupa??es com os rumos que estavam tomando a pol?tica internacional; entre seus correspondestes estavam desde amigos, professores universit?rios, outros religiosos cat?licos, e at? alguns lideres pol?ticos. Portanto partindo da premissa de nosso autor podemos afirmar tamb?m que Merton foi precursor de outras infinidades de segmentos sejam espirituais, filos?ficos, liter?rios e at? pol?ticos; quem sabe n?o descobrimos que ele est? por tr?s do pensamento do rec?m eleito presidente americano.

Pela terceira passarei bem r?pido. De fato Merton tinha um grande apre?o pela cultura latino-americana (assim como eu tenho pela grega, mas nem por isso sou o pai da filosofia) e at? pensou em realizar funda??es mon?sticas por essas bandas; vejam seu intuito era eminentemente mission?rio, como sempre foi, ali?s, o dos monges beneditinos que em diferentes ?pocas e lugares sempre se lan?aram a fundar novos mosteiros para que o louvor divino fosse celebrado em todo o orbe.

Por fim, e j? ? realmente hora de findar esse texto, vamos ? ?ltima premissa. Essa ? realmente o que chamamos de uma for?ada daquelas. Quando se diz na literatura que algum autor influenciou outro, n?o se diz que o primeiro tem total responsabilidade sobre o que o segundo porventura venha a concluir; se assim o ? ent?o podemos afirmar que Dostoievsky ? o verdadeiro pai da psican?lise, pois segundo o pr?prio Sigmund Freud a leitura de Dostoievsky foi muito importante para sua teoria psicanal?tica. Por?m ? l?gico afirmar que o autor russo n?o tem o controle da a??o empreendida pelo m?dico austr?aco sobre a sua obra liter?ria. Portanto se certos elementos ditos cat?licos leram as obras de Merton em chave libertadora, qual a responsabilidade de Merton aqui? Se os mesmos elementos leram toda a sagrada escritura com as lentes do marxismo e propalaram esse veneno por todo o continente, que dir? a obra do nosso pobre monge trapista.

Mas se temos que reconhecer um ?talento? na turba dita libert?ria ? o de converter por meio de uma tosca (para n?o dizer criminosa) hermen?utica qualquer autor (falecido de prefer?ncia, por raz?es ?bvias) em suposto adepto da causa.


?.


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