O papa pode estar certo

 

In theory, condom promotions ought to work everywhere. And intuitively, some condom use ought to be better than no use. But that’s not what the research in Africa shows.

Why not?

One reason is "risk compensation." That is, when people think they’re made safe by using condoms at least some of the time, they actually engage in riskier sex.

 

Faça um favor a sua honestidade intelectual e leia o artigo de Edward C. Green no Washington Post, sobre as declarações do papa Bento XVI acerca do uso de preservativos, quando de sua viagem à África.

Ahn, é claro. Deverão aparecer aqueles gênios da última hora para questionar sobre a idoneidade desse tal articulista. Pois bem, clique aqui para acessar a página do Harvard Aids Prevention Research Project, capitaneado pelo Dr. Edward C. Green, cuja experiência de anos na pesquisa da AIDS no continente africano pode ser conferida em seu Curriculum.

4 comentários O papa pode estar certo

  1. Francisco Razzo

    Caríssimos.
    Infelizmente, e por uma razão cultural absurdamente complexa, que vai de Descartes à Marques de Sade, de Safo a Foucault, toda sexualiade foi jogada ao horizonte do prazer e do gozar a vida. O sexo não conserva mais aquela emoção permanente, aquela promessa de eternizar-se. Como vivemos o sexo da maneira mais banal, vulgar, primitiva, só se procura o orgasmos e prazeres, só se procura “resolver-se sexualmente”… É uma loucura, alguma coisa de escandaloso, querer compreender a voz de um Papa nesse contexto!

    Forte abraço
    Francisco

  2. francisco de assis razzo

    Eis a entrevista completa e traduzida.

    Edward Green é diretor do Projeto de pesquisa em prevenção da AIDS, do Centro de Estudos de População e Desenvolvimento da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard. É um médico-antropólogo com mais de 30 anos de experiência no estudo de países em desenvolvimento e no combate à AIDS. Foi entrevistado pelo Ilsussidiario.net acerca das afirmações do Papa sobre a AIDS.

    A afirmação do Papa sobre a AIDS e o uso de preservativos é foco de um debate estridente e muitas pessoas – desde o fundador dos Médicos sem Fronteira, Bernard Kouchner, até o presidente da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e também os membros da Comissão da União Europeia – disseram que tal posicionamento é abstrato demais e mesmo perigoso. Qual é a sua opinião?

    Sou libertário no que toca aos assuntos sociais de modo que é difícil admiti-lo, mas o Papa tem razão. Os dados mais confiáveis que temos mostram que os preservativos não funcionam como meio de reduzir as taxas de infecção pelo HIV na África. (Funcionaram na Tailândia e no Cambodja, onde a epidemia é bastante diferente.)

    Numa entrevista recente ao site da revista National Review, o senhor disse que não há uma associação consistente entre o uso de preservativos e taxas mais baixas de infecção por HIV. Poderia aprofundar este comentário?

    Na verdade, o que vemos de fato é uma associação entre o uso de preservativos e taxas mais altas de infecção. Não sabemos todas as causas desse aumento, mas parte dele tem a ver com aquilo que chamamos de compensação de risco: um homem que usa preservativos acredita que são mais eficazes do que realmente são e, por isso, acaba por assumir comportamentos sexuais de maior risco. Outro fator que é largamente deixado de lado é o fato de as pessoas só usarem preservativos em relações casuais ou com garotos e garotas de programa. O preservativo não é usado com o cônjuge ou o parceiro regular. Assim, se o uso de preservativos aumenta, pode ser que estejamos presenciando uma disseminação do sexo casual.

    Então, por incrível que pareça, está provado que o aumento no uso de preservativos está associado com maiores taxas de infecção?

    Começou-se a notar anos atrás que os países da África com maior disponibilidade de preservativos e as maiores taxas de uso de preservativo também possuíam as maiores taxas de infecção por HIV. Isto não prova uma relação causal, mas deveria ter-nos feito olhar mais criticamente para os nossos projetos com preservativos.

    Além do caso de Uganda, há alguma outra evidência sobre a possibilidade de o modelo ABC (sigla para Abstinência, Seja fiel e Preservativo) dar certo?

    Vemos o HIV diminuir em pelo menos 8 ou 9 países africanos. Em todos os casos, a proporção de homens e mulheres que afirmam ter múltiplos parceiros diminuiu alguns anos antes de notarmos a queda. E, contudo, a maioria dos programas continua a dar ênfase nos preservativos, nos testes e nas medicações pesadas. De modo que essa grande mudança comportamental veio apesar dos projetos nacionais de combate à AIDS que enfatizaram os fatores errados (na África). Fico feliz de saber que os dois países com maiores taxas de infecção, a Suazilândia e o Botsuana, lançaram campanhas focadas em desencorajar as pessoas de manterem parceiros múltiplos e concorrentes.

    A abstinência entre os adolescentes é, obviamente, um fator. Se as pessoas começam a vida sexual mais tarde, acabam por ter menos parceiros sexuais durante a vida, o que diminui as chances de se infectarem com o HIV.

    Então o fator mais importante na luta contra a AIDS é a redução do sexo com múltiplos e concorrentes parceiros.

    Como eu já disse, esse é, de fato, o maior desafio.

    Uma última pergunta: no modelo ABC, A (abstinência) e B (fidelidade) não são tão relevantes quanto C (preservativos), que possui toda uma indústria atrás de si. Poderíamos dizer que não se trata apenas de uma questão cultural, mas também econômica?

    Não sei se entendi bem o que você quer dizer com economia. Quando pensamos em programas do tipo ABC, o PEPFAR (sigla em inglês para o “plano presidencial de emergência para ajuda contra a AIDS”, do governo norte-americano) foi o único a investir de verdade em A e B. E talvez a maior parte das verbas, na minha opinião infelizmente, foi aplicada à educação para a abstinência. Pois a fidelidade é o fator mais importante, seguido pela abstinência, de acordo com os dados que possuo.

    Se por economia, você quer dar a entender que é por causa da pobreza que a AIDS se espalha na África, então, mais uma vez, vemos que o continente africano é diferente do resto do mundo. Lá, vemos maiores taxas de infecção nas classes mais educadas e abastadas. De modo que o desenvolvimento da economia africana não reduzirá os índices de HIV (mas, claro, este não é um bom motivo para ignorar os problemas econômicos do continente).

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