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A Igreja está a serviço de Outro

Não posso deixar de registrar aqui uma das respostas de S. S o papa Bento XVI em recente entrevista concedida durante o voo ao Reino Unido. É verdadeiramente disto que precisamos.

 

O papa Bento XVI na Abadia de Westminster

Pergunta: O Reino Unido, como muitos outros países ocidentais, é considerado um país secular, com um forte movimento de ateísmo também com motivações culturais. No entanto, também há sinais de que a fé religiosa, sobretudo em Jesus Cristo, ainda está viva em nível pessoal. O que isso pode significar para católicos e anglicanos? Pode-se fazer algo para mostrar a Igreja como instituição mais credível e atrativa para todos?

Bento XVI: Diria que uma Igreja que busca sobretudo ser atrativa, estaria já em um caminho equivocado. Porque a Igreja não trabalha para si, não trabalha para aumentar os próprios números, o próprio poder. A Igreja está a serviço de Outro, serve não para si mesma, para ser um corpo forte, mas para tornar acessível o anúncio de Jesus Cristo, as grandes verdades, as grandes forças de amor e reconciliação que apareceram nessa figura e que vêm sempre da presença de Jesus Cristo. Nesse sentido, a Igreja não busca o próprio atrativo, mas deve ser transparente para Jesus Cristo. E, na medida em que não é para si mesma, como corpo forte e poderoso no mundo, mas se faz simplesmente voz de Outro, converte-se realmente em transparência para a grande figura de Cristo e as grandes verdades que trouxe à humanidade. A força do amor, neste momento, escuta, aceita. A Igreja não deve se considerar a si mesma, mas ajudar a considerar a Outro, e ela mesma tem de ver e falar de Outro e por Outro. Neste sentido, também me parece que anglicanos e católicos têm o mesmo dever, a mesma direção a tomar. Se anglicanos e católicos veem ambos que não servem para si mesmos, mas sim que são instrumentos para Cristo, amigos do Esposo como diz São João, se ambos seguem a prioridade de Cristo e não de si mesmos, então caminham juntos. Porque então a prioridade de Cristo os une e já não são mais concorrentes, cada um buscando o maior número, mas estão juntos no compromisso pela verdade de Cristo que entra neste mundo e, deste modo, encontram-se também reciprocamente em um verdadeiro e fecundo ecumenismo.

 

A partir daqui.

G. Ferreira

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G. Ferreira

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