O erro grosseiro dos daimistas

Enquanto as coisas andam corridas por aqui, segue mais um texto do nosso amigo Francisco Razzo.

1. Sinceramente, não há como acreditar que uma pessoa intelectualmente honesta possa cair nessa suposta religião, o Santo Daime. Segundo seus adeptos, o problema essencial a qual o Daime se propõe é sempre o de "res-significação da existência, através de uma espécie de (re)conexão espiritual" dada, entretanto, por uso de uma substância psicoativa "que provoca ampliações de consciência e aos homens de fé, uma comunhão com o sagrado". Incontestavelmente, toda legitima religião deve ter um começo, um ponto de partida histórico fundamental no e a partir do qual todo seu corpo de doutrinas e sacramentos será estruturado e, no decorrer da sua própria história, ganhará forma e adeptos. Mas de qualquer maneira, a sua fundamentação, a experiência religiosa que a legitime, deve-se dar "na" e "a partir da" história. Experiência profunda de tomar consciência "de não ser mais do que uma criatura" é um dos dados fundamentais provocado pela revelação do aspecto de um poder que é o outro absoluto. A experiência do sagrado em algo que é outra coisa que não ele mesmo, por exemplo: um objeto sagrado torna-se sempre outra coisa que não mais simplesmente ele mesmo, uma pedra sagrada, por exemplo, é pedra portadora de outra coisa não-pedra. Um pedaço de sacramentado é pão na medida em que é portador de outra coisa não-pão. Mas tanto a pedra quanto o pão só se legitimam religiosamente enquanto operam na história e são capazes de ser compreendidos por qualquer ser humano que atua com a totalidade de suas faculdades intelectuais, incluindo a vontade. O homem religioso é aquele que quer, deseja mesmo no sentido mais forte, participar e compreender profundamente a realidade que fundamenta absolutamente a sua própria realidade, sua existência, mas que sabe, reconhece, compreende moral e intelectualmente, não ser o responsável a partir do qual essa realidade se fundamenta. Tanto é que as clássicas provas da existência de Deus partiram do reconhecimento de que o homem não pode ser a raiz do Homem e, conseqüentemente, do próprio do real. O homem religioso experimenta em si, justamente, algo que é outro de si e não apenas o aprofundamento em si. A experiência sagrada do mergulho e retorno na interioridade deve, necessariamente, nos conduzir a uma realidade absolutamente outra. Não é o eu buscando o próprio Eu, mas é o eu buscando o Outro.

2. Toda religião pretende justificar que sua experiência sagrada é, de fato, a experiência desse Outro. Um exame mais acurado, dos princípios do Santo Daime, desmonta e demoli completamente qualquer possibilidade dos seus adeptos de fundamentarem como uma religião legítima, principalmente por que ela só consegue ser legitimada a partir da ingerência do chá ayahuasca. Pede para um daimista justificar o uso do chá e ele vai dizer "tome o chá!". É como pedir para alguém justificar a real presença e experiência da morte e ela responder simplesmente com um "morra!". Como a base do Daime é a ingerência dessa substância psicoativa que supostamente nos conectaria com o espiritual, basta perguntar para o daimista: qual o critério que justifica essa conexão espiritual se ela é dada justamente só depois da entrada radical na consciência individual alterada? O Espiritual aqui é considerado de fato o Todo e, sobretudo o Outro, do real? Se for, e é isso que se espera de uma religião, qual o critério que fundamenta dizer que só a partir da ingerência dessa substância se dá a revelação desse todo? Mais complicado ainda para os seus adeptos é demonstrar que o espiritual revelado não se limita ao psiquismo de alguém particular que toma dessa substância. Evidentemente que eles precisam criticar o estado de sobriedade, mas criticar aquilo que no insere na linguagem, e conseqüentemente, na relação com os outros e com as coisas é de um contra-senso tão descarada que é melhor deixar, por enquanto, de lado. Como pensar que a "ressignificação" não passa de uma visão de mundo presa exclusivamente nesse eu psicológico e que a sua "reconexão" não é nada mais que um abandono da capacidade intelectual genuína de discernimentos e, nesse sentido, de uma radical entrada e potencialização da mera capacidade de imaginação? Pra responder isso seria preciso estar sóbrio! Enfim, qual o critério que permite esse processo de universalização da experiência a ponto de se legitimá-la como religião? (Universalizar, evidentemente entendido aqui, como algo que é capaz se tornar realmente verdadeira e compreensível para qualquer ser humano portador de suas capacidades reais de julgamento, e não vale justificar isso depois de ter ingerido a bebida). Porque, aquilo que não passa de um potencial da consciência individual, não é nada mais que o culto de si mesmo e aquilo que não passa de alguma coisa que só opera na capacidade de imaginação, potencializando essa capacidade, que é, em princípio, restrito ao individual, também não passa de um culto de si mesmo, não obstante, agora, construído na faculdade de imaginação. Ainda que se recorresse a uma espécie de "imaginário cultural simbólico" – típico de chaves de interpretação dos arquétipos junguianos – isso ainda não responde ao exame crítico atento, já que os chamados arquétipos são proto-imagens que operam apenas no universo da cultura e não nos garante a realidade absolutamente de Outro. As religiões e muito da linguagem atuam mediante a operação de símbolos e signos, o problema é sempre a raiz fundante e originária desses símbolos. Levar para o Eu Superior interno, finalidade dos daimistas e que eles associam a Deus, não é nada mais que um mero eu interno! O problema aqui é como alcançar de fato o não-Eu Superior, ainda que simbolicamente.

3. Se a revelação desse espiritual, desse Eu Superior – cujas raízes históricas do gnosticismo só os daimistas e incautos desconhecem – tivesse sido dada primeiramente na história, onde todos tivessem capacidade de compreendê-lo, antes mesmo de se ter ingerido o chá, aí sim talvez fosse uma religião teologicamente possível de ser legitimada, porém apologeticamente contestada. Certamente, o homem religioso é portador de um dado sagrado – ainda que não façamos idéia do que venha ser isso – que lhe foi revelado por algo que, por princípio, não seja ele mesmo, mas jamais poderia ter sido ele próprio quem criou esse dado. O cristianismo só pegou mesmo por que pôs Deus radicalmente encarnado na história. O seu encontro com a Grécia pode ser considerado não um mero acidente, mas um real processo de convergência orgânica de universalização ontológica. Em outras palavras a história caminhou propositalmente pra isso. Justamente o contrário do processo eclético, porque a convergência não é justamente a partir do sincretismo, mas da catolicidade, universalização da história. Uma unidade que não é a compressão da multiplicidade, mas a instauração e "encarnação" de um real parâmetro de unidade no mundo.

4. Se uma religião fundamentar todo seu corpo de doutrina e sacramentos naquilo que simplesmente brotou da cabeça de uma pessoa ela não passa, evidentemente, de um grande delírio, ou mera visão alegórica de mundo. Não precisamos nem ler a Bíblia inteira, basta uma mera folheada nos Atos dos Apóstolos pra compreender o desdobramento apaixonado – mas intelectualmente honesto – que Paulo precisou para demonstrar que o Cristo não era evidentemente uma alucinação sua, mas a própria Encarnação dessa Unidade, e olha que no caso do embate com os atenienses até que eles eram bem abertos para o tipo de discussão que Paulo estava propondo. Sinceramente recomendo para os daimistas um estudo, ainda que superficial, sobre patrística. Ler o Evangelho à luz da doutrina daimista é fácil – aliás, à luz de qualquer doutrina – o difícil, pra não dizer impossível, é ler essa doutrina à luz do Evangelho! Dizer que essa "doutrina, se constituem para os participantes numa nova revelação, um Terceiro Testamento, uma leitura do cristianismo à luz da ahyauasca"(www.santodaime.org/doutrina/index.htm.) só mesmo depois de ter tomado uma bebida psicoativa pra levar isso a sério!

5. Voltando, mais uma pergunta que os daimistas certamente não conseguem sair: essa realidade que foi revelada espiritualmente, foi revelada antes ou depois que se experimentou o chá? Comprovado, o histórico do Daime consta isso: "O movimento religioso do Santo Daime começou no interior da floresta amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Foi ele que recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida Ayahuasca (vinho das almas), por nós denominada Santo Daime." Ou seja, nasceu da experiência de um homem específico que tomou uma bebida já difundida por povos indígenas da região. O estranho é a ousadia do "cunho cristão": demonstre, ainda que numa interpretação rasteira do texto bíblico ou qualquer texto apócrifo que o Cristo tenha dito: "Tomei todos dessa substância, esse é o meu cálice o cálice da Eterna Aliança". Não há uma passagem bíblica, Novo ou Antigo Testamento, nada, absolutamente nenhuma palavra sequer, que fundamente o uso de bebidas ou substância enteógenas. Não houve uma Tradição, um Magistério, nada na história que sustente o uso da bebida, antes da ingerência e do efeito da bebida. Por isso os daimistas só podem dizer: "O uso de uma substância enteógena como sacramento parece ter feito parte das principais tradições religiosas da antiguidade e fornecido a base visionária de muitas das principais grandes religiões hoje existentes no mundo". Como é que alguém pode ter coragem de dizer que "parece ter feito parte das principais tradições religiosas"? E deduzir disso alguma coisa séria? Entre "Ser" e "Parece Ser" basta a suspeita de uma criança pra demolir qualquer possibilidade de fundamentação! Eu desafio a qualquer daimista demonstrar, sobretudo no cristianismo, que "o uso de uma substância enteógena como sacramento foi e ainda é parte essencial da sua tradição". Não adiante dizer que resgataram a tradição, tem que comprovar que o próprio Cristo encarnou e disse "Tome, beba isso!".

6. Não caberia dizer aqui que o risco de ser uma simples viagem para dentro da sua própria consciência e nada mais que isso é muito grande a ponto de torná-la contraditória. Porque ela é em sua raiz contraditória! Seria interessante se esse "espiritual" que eles alegam ter conexão (conexão dada, insisto, só depois do uso da bebida) tivesse, ele próprio se revestido, "encarnado", se revelado na história, antes mesmo da ingerência da substância, e para esse primeiro homem dito: "Tomai deste chá, pois ele te levará verdadeiramente de encontro consigo e com o todo. Tomai e anuncia a todos esse meu mandamento." Mas "segundo o próprio Mestre Irineu, ele recebeu essa Doutrina através de uma aparição de Nossa Senhora da Conceição, em uma das primeiras vezes que tomou a bebida". Ou seja, ele tomou primeiro a bebida, potencializou sua capacidade de imaginação a ponto de subjugar sua capacidade de julgamento, e aí sim viu Nossa Senhora. Ou seja, seu ponto de partida foi, contraditoriamente, o de chegada, isto é: experimentar o chá, só o levou ao encontro fechado de uma individualidade psíquica que poderia imaginar qualquer outra coisa que não a Nossa Senhora. Por exemplo: se tivesse na China Budista, teria visto o próprio Buda, na Grécia Antiga, o próprio Zeus – só que nesse caso toparia com as chacotas de Xenófanes e não as minhas. Por que as tribos indígenas, que já tomavam isso há tantos e tantos séculos não viram Nossa Senhora e muito menos o próprio Cristo?

7. Evidentemente, tomar o chá, só coloca você dentro de sua própria consciência e nada mais que isso. Não obstante, potencializando apenas uma capacidade da consciência. O início originário de uma religião dá-se, de fato, por uma revelação. Sua pedra fundamental é um evento fundamental: fundamentação que, em ultima instância, deve vir do "alto", ou vir de qualquer outro lugar que não simplesmente formulações da cabeça de alguém. O chá talvez não cause nenhuma seqüela fisiológica, mas também não permite você passar de você mesmo, ou seja, pior do que o risco latente de seqüelas fisiológicas é o voluntário auto-aprisionamento no coração do próprio eu e da própria mentira. Erro grosseiro é achar que isso te leva para algum lugar fora de você: "Do coração da Amazônia brotam as insígnias e da mente dos homens, as alegorias. Ao ser apresentado ao chá ayahuasca, se prepare para ser auto-apresentado" e nada mais que isso! Você daimista vai conhecer o que há de mais podre em você, na tua incapacidade de buscar a verdade intelectualmente, apela para sua pobre e torpe imaginação! O Santo Daime não passa de "Religião" dos ingênuos, justamente, porque ao invés de nos conduzir à Verdade, toma-me e dai-me como prisioneiro estúpido de uma cegueira branca, não barata, porque ainda é preciso a taxinha minimamente alegórica de cinqüenta reais pra comungar, claro que se demonstrar portador de deficiência financeira a boa e velha generosidade assistencialista das esquerdas campesinas deixa de graça. Daqui a pouco teremos também o "Bolsa-daimista". Um todo espiritual que se fragmenta na charlatanice só poderia mesmo fechar-se na cabeça dos cretinos, que infelizmente têm arrastado os ingênuos e incautos. Que Nossa Senhora da Conceição apareça pra mim – só aceito se for sóbrio e ela me der um beliscão – pra que rogue por misericórdia dessas nefastas e pobres almas.

Francisco Razzo é estudante e professor de filosofia


 

12 comentários O erro grosseiro dos daimistas

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  2. Luiz Henrique

    Erro Grosseiro ? a tua ?tica m?ope e mal versada sobre coisas que da bem pra notar, que tu nem conheces e ficas a emitir conceitos…Erro Grosseiro…

  3. Francisco

    De fato, caro luiz, minha ?tica ? bem m?ope, seis graus n?o ? f?cil, coisa que eu n?o desejo pra ningu?m. Quanto ao ser mal versado sobre as coisas, gra?as a Deus, n?o tenha d?vida nenhuma de que sou mesmo, como eu queria ter essa certeza incondicional que tem voc?s daimistas de que o “daime” ? realmente um culto crist?o. O problema de afirmar isso ? ter de tomar primeiro o “vinho” de voc?s. Minha consci?ncia (naturalmente cega e torpe) exige, sempre, primeiro o estado de sobriedade para emitir juizos sobre as coisas, sobretudo das coisas sobrenaturais. Ser? que ? pedir demais? Ser? que ? exigir demais de voc?s demonstrarem, dar boas “raz?es”, de que o Daime ? um culto crist?o porque assim o foi instaurado pelo pr?prio Cristo? O “Daime” d? de tudo, menos boas raz?es, j? que pra isso precisaria estar com a raz?o boa, a consci?ncia l?cida, sem necessidade de ?culos pra miopia.

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  5. Julio

    Caro Prof. Francisco..
    Eu entendo uma coisa só..
    1º Quem diz que Deus só existe em religiões Legalizadas (digamos assim)?
    2º Porque não podemos tentar encontrar Deus dentro do nosso próprio “EU” se nós somos de espírito, uma única unidade?
    3º Porque aqueles que nunca participara de uma celebração do Santo Daime o critica?
    4º O Ser humano não bebe, não fuma, não se droga, não se arrebenta numa asa delta, num veiculo etc…,por puro prazer, porque não pode procurar talvez o caminho da espiritualidade de uma forma diferente?
    5º Você. como professor e estudante de filosofia sabe que para morrer nos temos que estar bem consciente como ela é, caso contrario nosso espírito não encontra a unidade fica vagando, porque então não podemos nos aperfeiçoar para podermos aceitar ela?
    6º O que você tem a dizer daqueles que não virão somente a nossa senhora e sim energias como Orixás, mentores, mestres, santos, parentes, descobriram que são amigos, amantes,irmãos, ate pai e filhos de encarnações de 10, 20,30,40 ate 100 anos atras?
    7º O que você tem a dizer daqueles como eu, descobriu a sua alma gemea atraves de migrações, sem antes de tela conhecido e apos um periodo de 5 anos casar com ela?
    8º O que você tem a me dizer que depois de dez anos ter perdido um pai, surge em sua migração e diz:”Estou feliz por sua mudança meu filho”?
    9º O que você tem a me dizer quando sua esposa tem uma miração e descobre que foi filha em encarnações passadas da sua propria filha?
    10º Como você pode me explicar da seguinte informação-“Deus esta enviando legiões de anjos e seres divinos para auxiliarem todas as religiões do mundo”-, em referencia a transformação que o mundo terra em alguns ou milhares de anos?

    Caro professor, eu estou ciente de tudo o que o cha provavelmente provoca(inclusive curas como o meu diabetes)tudo talvez seja devida a muita fé que coloco na minha crença, mas a duvida que levanto é porque o ser humano fala ou age antes de ter certeza ou ter experimentado qualquer coisa,epor sua vez condena o seu semelhante?

    Isto não é pessoal, pois meu caminho eu ja escolhi, e, para mim é o correto.
    Obriga e um grande abraço.

  6. francisco

    Caríssimo Julio.
    Prometo responder questão por questão. Também não é nada pessoal meu texto, alguns deboches são pura retórica. O núcleo mesmo do problema é: por que a consciência precisa antes estar alterada para justificar tal verdade? Justifique o uso disso sóbrio, com critérios racionais, com a lucidez que convém a todos os homens (lúcidos). Responda pra mim: por que eu devo fazer uso do vinho das almas? Porque ele me revela uma “verdade”, mas só me revela se eu fizer uso de uma alterador de consciência. Aí fica difícil, né.
    Respeitosamente
    Francisco

  7. bruno

    Francisco,

    Você levanta questões pertinentes e dúvidas que normalmente todos temos perante o desconhecido.
    Quando você se refere aos escritos sagrados, mencionando o detalhe de não vir especificado o uso do “vegetal”, você usa o texto sagrado como uma lei, ou uma prova, algo que comprova a veracidade, certo?
    (peço desculpa se entendi de forma errada a sua colocação)
    Dê-me prova, com fundamentos racionais, que os textos sagrados, são a verdade?
    Sem recorrer à fé.
    Não sei se você tem filhos, ou filhas, ou é casado, mas deve ter alguma pessoa muito próxima, você ama essa pessoa? Então dê-me provas, racionais da existência do seu amor por essa(s) pessoa(s).

    Entendo a sua dúvida no que se refere ao uso de um indutor, ou melhor, da necessidade deste para que se chegue a um estado de “consciência”, ou inconsciência, dependendo do ponto de vista.

    O melhor exemplo que lhe posso dar é o seguinte, certamente já esteve sujeito a alguma medicação, já tomou uma aspirina, ou um tylenol, até mesmo quimicos mais poderosos no combate a determinada doença ou estado de debilitação.
    Poderia muito bem, esperar que a dor passasse, que a cura chegasse por si só, certo?

    Não sei se sabe, mas existem estudos que apontam algumas propriedades do “Vegetal” como anti-depressivos, isto aos olhos da ciência, claro, e estão em fase de estudos para chegar ao químico que virá salvar muitas pessoas de estados de apatia existencial. Ora veja o link:

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u469235.shtml

    Porque precisamos sempre da ciência para crer? Ah, sim, somos o animal racional.

    Ainda continuo sem as provas da veracidade da bíblia, do al corão, da tora, do hinduísmo, do xamãnismo, do candomblém, do umbanda, e da maioria dos ísmos (porque poderá haver por aí algum com provas, nunca se sabe). No entanto acredito na mensagem de muitas dessas filosofias.

    Porque preciso rezar para chegar mais próximo de deus?
    Porque preciso rezar 50 avé-marias para obter redenção?
    Porque preciso de fazer o juramento ao casar?
    Porque seguem as pessoas, determinados rituais, para chegarem a um estado de bem estar?
    Porque acreditam as pessoas que serão purificadas por um pedaço de pão? Ou por um gole de vinho?

    Porque seguem as pessoas em romaria, a pé, até santiago? ou até fátima? porque se dizem elas purificadas no final da jornada? Quais são as provas?

    Porque beber um líquido, que altera o estado de consciência retira a credibilidade de uma fé?

    São ritos, que passam por gestos, como a cruz com as mãos, ou o ajoelhar-se para ficar mais próximo da fé em respeito por um ser divino, são, tantas coisa por explicar, Francisco, tantas perguntas que não se respondem aos olhos da razão.

    Se você ama alguém, tente entender isso de forma racional?
    Justifique a sua existência de forma racional, e a de tudo isto que nos rodeia.
    Onde termina o universo? onde começa?
    quanto tempo tem?
    existe deus? apenas um?
    Fomos mesmo feitos à sua imagem?
    dê-me provas que não sejam um livro escrito por homens orientados por um tal de deus. Mostre-me uma imagem de deus, uma fotografia, para que eu acredite nele.
    Será mesmo necessário que tenhamos provas de tudo?
    Teremos respostas para tudo?

    Não defendo nenhuma religião, defendo a fé, a fé de quem temos muito, muito a dar e a receber.
    A religião é dos homens, sujeita a egos e a fé, não se faz à imagem de ninguém, é algo que não se explica.

    se tomar um chá, me provoca um estado de consciência maior dessa mesma fé, não vejo mal nisso.

    No meu caso, não dependo do Vegetal para pensar o mundo da forma que vim a sabe-lo depois da ingestão do vegetal. Mas, cada vez que tomo, descubro coisas novas, caminhos novos, e esclareço dúvidas que me assolam.
    O brilhante é que eu retenho essas ideias, e encaro hoje o mundo de uma forma que me é mais saudável e aos que me rodeiam. Experimentei o Daime 3 vezes, e não encaro a minha existência presa ao uso do mesmo. Diga-se de passagem, levei um bom tempo para digerir as informações que recebi e continuo em estado de processamento das mesmas. Não preciso de recorrer nos tais dias do calendário, para ir pensando na minha existência nem sei quando voltarei, acredito que voltarei.
    Mas é uma experiência maravilhosa esta de existir de uma forma mais consciente.

    Francisco, não quero provoca-lo, apenas expor o meu ponto de vista, a minha opinião.
    Sei que estou sempre susceptível a aprender, a crescer, obrigado por me ter feito pensar com as suas palavras.

    não encare este último comentário como uma afronta ou como o derradeiro argumento para o convencer de algum ponto de vista, pense em experimentar, encare isso como uma experiência.
    Você não precisa de seguir nenhuma religião, ou um credo específico, não precisa ser católico, agnóstico, evangélico, muçulmano, espírita ou de outra qualquer religião, precisa apenas ser curioso sobre o que existe nesse mundo vasto e não se reger por conceitos pre-concebidos.
    Não estou a pedir-lhe que morra para descobrir como é essa experiência, mas sabe que inevitavelmente, um dia, todos morremos. Eu descobri que precisamos mesmo morrer várias vezes na vida para nos reinventarmos e tantas vezes morremos, e tantas outras renascemos, e tantas vezes mudamos de opinião, ou percebemos que estávamos errados, ou certos.
    ninguém tem provas de nada nem eu, nem você.

    um abraço,

    Bruno

  8. francisco razzo

    Caro Bruno. Obrigado pelo comentário e pelas palavras, elas retomam uma discussão que já estava quase sepultada em meio as minhas tarefas cotidianas. Não terei tempo de retomar a argumentação nesse momento, seu comentário toca em muitos aspectos de um problema que é vastíssimo, e se meu texto o fez refletir a respeito dessas coisas, minha tarefa foi quase cumprida.

    Mas apenas gostaria de ressaltar um ponto: entendo racional, nesse contexto, como uma formulação coerentemente inteligível e defensável. Não estou pensando na “razão” em seu sentido, podemos dizer, instrumental vinculada à clássica metodologia científica. Razão aqui é no sentido daquilo que é comum a todos e que dispensa recursos ou mecanismos para manifestar sua credibilidade (explico isso em outro comentário). Não obstante, considero o “vegetal” um mecanismo absolutamente indenfesável nesse aspecto.

    Atenciosamente
    Francisco

  9. francisco razzo

    Caro Bruno.
    Como o meu tempo é sempre muito curto, vou tentar comentar a primeira das suas indagações.

    “Quando você se refere aos escritos sagrados, mencionando o detalhe de não vir especificado o uso do “vegetal”, você usa o texto sagrado como uma lei, ou uma prova, algo que comprova a veracidade, certo?”

    Em relação à Bíblia não fazer menção ao uso de vegetais cuja finalidade seria a experiência mística, ou mais precisamente, de revelação, é muito simples o que eu penso da Bíblia, penso aquilo que a Tradição e o Magistério da nos ensina: uma coleção de escritos que a Igreja compreende como “inspirados”, ou seja, “revelados”.

    Não há necessidade de um mecanismo que altere minha consciência para compreender a “revelação” uma vez que o próprio livro é a fundamental história dessa revelação, em grego diathéké, popularmente traduzido como Testamento. A Escritura é verdade revelada no sentido de “dabar”: a eficácia da palavra de Iahweh (DEUS) que se revela, que fala aos homens (e que definitivamente se faz carne) por meio de profetas, na lei, na natureza e na história. Palavra divina nesse sentido, criadora! É a experiência de Deus que é uma experiência de salvação e não de um deus que experimento no interior da minha consciência alterada. As Escrituras revelam o próprio Deus, uma pessoa viva, através de uma mensagem de salvação que é Palavra, Lógos! Jamais precisaríamos de ervas para compreender isso, alteradores de consciência, drogas, danças, gestos excessivos, pelo contrário, na verdade, precisamos para compreender isso da mais genuína sã consciência!

    Enfim, a Bíblia é “o livro” que narra a história de um pacto ou aliança (berith) que Deus contraiu com um povo, um povo que aceitou (deliberadamente compreendeu, e por isso deve estar sóbrio) a obrigação de ser fiel a Ele, o único Deus verdadeiro.

    —-

    Você diz: “Dê-me prova, com fundamentos racionais, que os textos sagrados, são a verdade?”

    Caro Bruno. Se você está compreendendo “dar provas” dentro de uma metodologia científica cuja base é o teste da experiência empírica, esquece! Como eu disse acima, não vamos confundir “dar razões” com o método indutivo para compreensão de um determinada aspecto da realidade empírica. Aqui estamos num outro nível da racionalidade. Na verdade, no seu nível mais genuíno que é Lógos. Não sei do seu conhecimento de filosofia, mas recomendo um estudo mais detalhado desse conceito e da sua diferenciação com metodologias científicas. No sentido que estou compreendo a Bíblia, ela própria é a manifestação revelada da racionalidade, é um contrasenso “pedir provas com fundamentos racionais” de que as Escrituras sejam a verdade. O que eu posso dar é “razões de minha fé”, como já recomendava São Pedro.

    Bom, espero ter esclarecido alguns pontos. Qualquer coisa escreva e continuamos a conversa.
    Um abraço
    Francisco

  10. francisco razzo

    Caro Julio. respondendo à primeira de suas objeções.

    1º Quem diz que Deus só existe em religiões Legalizadas (digamos assim)?

    Essa é uma pergunta extremamente complexa. Há dois problemas distintos: o primeiro em relação à própria existência de Deus; o segundo, e pra mim um pouco confuso, o seu conceito de “religião legalizada”, se eu compreendi bem você deve falar em “religião legalizada” em contraposição a uma “ilegal” ou “não-legalizada”. Então, vamos começar fazendo outra distinção: entre a Existência de Deus e as Manifestações Religiosas. Tudo bem? Sobre a existência de Deus podemos dizer o seguinte. Ou Ele é Único ou há vários deuses ou nem há Deus algum. Por razões que me parecem óbvias, desde Xenócrates e Moisés, vamos admitir que Deus exista e seja apenas Um. Se ele é Um e é “A Verdade”, então, só deve existir uma única verdade, isso não é a fé quem diz, é a própria razão! Se Deus não for “A Verdade” não faz diferença nenhuma sua existência ou não existência. Então, admitamos o seguinte: Deus é único é a única Verdade. O problema é que não há uma única manifestação religiosa, mas várias; e isso é evidente também. Será que Deus está presente em todas elas? Tem gente que acha que sim, eu acho que não. Por exemplo, me parece um absurdo, manifestações religiosas que prescrevem práticas de sacrifício humano, ou suicídio coletivo, já que haveria uma discrepância muito grande entre manifestações religiosas e aquilo que Deus prescreveria para compreender sua realidade. Poderia Deus existir nessas manifestações religiosas? Ou Deus existe como Verdade e prescreve verdades ou não existe. E no que diz respeito a Deus não me parece existir “meias verdades”. Outra pergunta: quem determina a legitimidade de uma religião? Deve haver algum critério pra isso, ou não, qualquer manifestação é legitimamente possível? Qual a relação genuína entre a Existência de Deus e a variedade de Manifestações Religiosas? Na minha humilde opinião, procuro ser coerente com uma série de princípios da “razão natural” (comuns a todos humanos independente dos princípios de Fé que a iluminem), há uma distinção fundamental – em filosofia se diz uma distinção ontológica – entre a Existência de Deus e Manifestações Religiosas, uma vez que nem toda manifestação religiosa de fato manifesta Deus e que Deus – que deve ser único – não deve se manifestar na variedade de religiões. Na verdade, se Deus é realmente único, só deve haver uma única religião verdadeira. Uma das coisas mais comum hoje em dia, pós-Helena Blavatsky, é achar que todas as religiões trás um vestígio fundamental de uma verdade comum, que todas de alguma forma dizem algo, “sui generis”, alguma coisa de verdadeiramente real sobre Deus. No entanto, isso não passa de uma tremenda bobagem e uma confusão tola nascida a partir de uma péssima leitura das obras dos cientistas da religião. Esses julgavam capazes de reduzir a múltipla variedade dos fenômenos religiosos a um elemento comum, o mana. Desde os mais selvagens e irracionais aos sistemas mais racionais, todas as religiões seriam apenas caracterizações dessa “força”. Mas até aí afirmar que essa força é a manifestação do próprio Deus Único é um salto muito grande. De fato, parece haver algo comum em todas as religiões, todas ao seu modo criam sistemas simbólicos em torno daquilo que consideram sagrado, mas até aí dizer que essa experiência do sagrado seja realmente a experiência de um Deus Verdadeiro são percursos ontologicamente muito distintos.

    Então, respondendo a sua pergunta: quem diz que Deus só existe em “religiões legalizadas”? Bom, se eu compreendi que o que é religião legalizada, a lucidez da nossa capacidade racional que é partilhada por todos! Agora podemos dizer: quem dá os critérios para o racionalmente legítimo? Fé e Razão – como já diria João Paulo II – constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para contemplação da verdade. Não pode ser nem o irracional e nem um veículo que altere minha consciência, já que a consciência é a única entidade possível onde opera a faculdade da razão, do conhecimento e do autoconhecimento e da Fé. O problema de vocês, daimistas, é confundir algumas capacidades mentais básicas. Não perceber a diferença fundamental que há entre imaginação e razão é outro erro grosseiro. Não podemos voluntariamente nos furtar daquilo que verdadeiramente nos humaniza, a relação genuína entre Fé e Razão. As clássicas polêmicas filosóficas em torno da relação entre Inteligência e Fé – “Intellego ut credam” ou “Credo ut intellegam” – estiveram sempre presentes na história da filosofia. De Platão a Kant, Santo Agostinho e Pedro Abelardo, Aristóteles e Santo Tomas de Aquino, entre tantos outros que consagraram suas vidas na busca da compreensão de princípios primeiros que fundamentam a nossa existência, não pode ser simplesmente extirpada – e nem vai ser – pela ansiedade mística e esotérica de um modismo cultural. Já que a lição mais clara e vigorosa que os filósofos e homens de fé nos transmitiram foi: As verdades de fé devem, por conseguinte, ser propostas em termos inteligíveis! Como já diria Pedro Abelardo “não basta aderir cegamente a estas autoridades; é mister examiná-las criticamente a fim de determinar claramente o que se deve crer. Tanto mais que existem muitas contradições aparentes entre essas autoridades. Há proposições que são afirmadas por uma e negada por outra. (…) Em tais casos a razão deve decidir-se por um ou por outro.” (Sic et Non).

    Att
    Francisco

  11. Marii

    Oi, Francisco..
    Voce tem toda razao. Eu já tomei o Daíme..
    Conheco os efeitos.
    Mas nada justifica santo nenhum. é apenas a planta ultilizada
    na bebida que causa essa dimensao de imagens na sua conciencia.
    A gente fala serio.
    Respeito aqueles que acredita ok.
    Mas na minha opniao é tudo uma mentira. ilusionismo.

  12. francisco razzo

    Oi Marii

    Tudo bem? Recebi seu email e já respondi. Você resumiu muito bem a razão de ser dessa “religião”: Ilusionismo!

    Atenciosamente
    Francisco

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