Hegel e a Filosofia como atividade séria

Hegel

 

Frente a algumas coisas que se vê por aí, nunca é demais relembrar as palavras de Hegel sobre o fato de que Filosofia é uma coisa séria:

 

Constitui um obstáculo ao estuda da filosofia, tão grande quanto a atitude raciocinante, a presunção — que não raciocina — das verdades feitas. Seu possuidor não acha preciso retornar sobre elas, mas as coloca no fundamento, e acredita que não só pode exprimi-las, mas também julgar e condenar por meio delas. [Vendo as coisas] por esse lado, é particularmente necessário fazer de novo do filosofiar uma atividade séria. Para se ter qualquer ciência, arte, habilidade, ofício, prevalece a convicção da necessidade de um esforço complexo de aprender e de exercitar-se. De fato, se alguém tem olhos e dedos e recebe couro e instrumentos, nem por isso está em condiçãoes de fazer sapatos. Ao contrário, no que toca à filosofia, domina hoje o preconceito de que qualquer um sabe imediatamente filosofar e julgar a filosofia, pois tem para tanto padrão de medida na sua razão natural — como se não tivesse também em seu pé a medida do sapato.

 

G. F. W. Hegel, Fenomenologia do espírito, §67

 

2 comentários Hegel e a Filosofia como atividade séria

  1. André Ribeiro

    De fato, filosofia imediata é uma contradição. O que caracteriza oUmiddelbare, o homem imediato, é justamente a falta de reflexão. Agora, Hegel falar em seriedade produz coceira nos ouvidos de Campo-Santo… afinal, como falar em seriedade sem levar a sério o opbygge, o edificar?

    1. G. Ferreira

      Caro André, obrigado pela visita e pelo comentário. Sob certo aspecto, concordo com você. Sob outros pontos de vista, creio que mesmo Kierkegaard não deixaria de concordar com Hegel dado que o tipo de falta de seriedade que é objeto da crítica hegeliana nesse trecho é também objeto da crítica kierkegaardiana por diversas vezes. Sem falar que não parece que Kierkegaard compreendia a edificação como uma tarefa a ser empreendida pela Filosofia. Basta ver a clara distinção entre seus escritos mais “teóricos” e seus discursos propriamente edificantes. Sobre isso, não custa lembrar a admoestação de Climacus — que encontra eco também em diversas outras obras — sobre como se pode “prostituir-se” por não tomar a sério a reflexão filosófica:

      “But I should add a word here, in case anyone misunderstands a number of my remarks, in order to make clear that he is the one who wants to misunderstand me, whereas I am not at fault. Honor be to speculative thought, praised be everyone who is truly occupied with it. To deny the value of speculative thought (even though one could wish to have the money-changers in the temple courtyard etc. chased away as desecraters) would, in my eyes, be to prostitute oneself and would be especially foolish for one whose life in large part at its humble best is devoted to its service, and especially foolish for one who admires the Greeks. After all, he must know that Aristotle, when discussing what happiness is, lodges the highest happiness in thinking, mindful of the eternal gods’ blissful pastime of thinking. Furthermore, he must have both a conception of and a respect for the dauntless enthusiasm of the scholar, his perseverance in the service of the idea.” (CUP, pp. 55-56)

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